terça-feira, 1 de novembro de 2016

Erick Gutierrez, múltiplo e arrebatador

Erick Gutierrez em "Um corpo, um poema"
Foto: Aline Nascimento

Em 2015, Erick Gutierrez trouxe para o Fida muitas surpresas como intérprete e grande energia para a oficina de sapateado que ministrou. A modalidade, presente em diversas edições anteriores do festival, andava até então um pouco esquecida entre os mais jovens.

Bem, Erick logo disse a que veio, ao apresentar solos numa linguagem surpreendente, poética, que mesclava o sapateado com novas formas de expressão - o que resultou em grande sucesso e empatia com o público.

Em sua primeira noite deste ano, Erick mirou com inteligência o público jovem: a coreografia "Sente a minha vibe", criada em cima de uma trilha ultra-pop, arrebatou de tal modo a plateia que levou quase a uma catarse. - Eu queria mostrar pra toda essa galera que se pode sapatear com as músicas que eles curtem - explicou. 

Foi no alvo e na veia. Tanto que a repórter da TV Liberal, afiliada local da Rede Globo, sentiu o clima da varanda, setor de onde cobria o festival. Pois tratou de correr ao camarim e colocar logo na telinha uma entrevista com a nova sensação do festival.

"Sensação", aliás, foi a palavra que o locutor oficial do Fida, Rui Bastos, usou para descrevê-lo no segundo dia.

O locutor só não sabia que dessa vez a surpresa seria outra. 
E grande.

Até quem estava ligado na "vibe" da véspera se tomou de um silêncio mais que respeitoso diante de "Um corpo, um poema", improviso coreográfico criado por Erick e inspirado no magistral tango Oblivion (Esquecimento), do grande compositor e bandoneonista argentino Astor Piazolla.

Erick usou uma gravação extremamente feliz de Paul Ziegler e, mais uma vez, mergulhou na poética corporal que tão bem domina, apoiado por recursos irretocáveis de luz e sombra, figurino em tons suaves e movimentação cênica de raro lirismo. Lirismo esse, aliás, que integra de forma tão intensa o estilo do artista, a ponto de transportá-lo em muitos momentos para o universo da mímica, naquilo que esta arte tem de melhor e de mais particular.

Pura emoção na qual a técnica ressoa, para embelezar tudo. E o sapateado, presença discreta porém marcante, mais uma vez mostra sua versatilidade em temáticas tão diversas quanto o vibrante pop e a vigorosa obra de Piazolla - o compositor e intérprete que realizou a mais dramática e potente transformação do ritmo tradicional de sua terra ao criar centenas de canções que são verdadeiras obras de arte, como Oblivion, Adiós Noniño, Libertango e tantas outras.

Erick Gutierrez possui recursos muito particulares na dança, no drama, na interpretação. Em conjunto, esses recursos formam um estilo inconfundível, inesperado, que envolve técnica e doçura, vigor e silêncios, às vezes tempestade, outras vezes calmaria.

Nos dois dias seguintes, o artista alternaria novamente os dois solos, com o mesmo sucesso e a mesma força.

Você confere abaixo, na galeria de fotos, os dois momentos de Erick Gutierrez no Fida 2016, clicados pela lente sensível de Aline Nascimento.



2 comentários:

  1. Que texto maravilhoso! Descreveu e exprimiu exatamente o que vi e senti, assistindo esse artista maravilhoso. Ressaltou, ainda, a fantástica luz feita pelo experiente técnico e, também, artista, Rubens. Tudo isso registrado pela brilhante lente de Aline Nascimento.

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  2. Que bom você comentar, querida Terezinha! Fico feliz em ouvir e saber que consegui captar o que você, lá das alturas, sentiu! Se tiver o nome completo do Rubens, eu retifico no post para dar o crédito a ele. Bjs!

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